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Pedro, a Rocha. (Parte I)

Publicado: 25 de agosto de 2011 por Rafasoftwares em Exegese, Patrística, Teologia

Esta é mais uma matéria Sobre Pedro. É com “grande freqüência” que estou postando matérias sobre Pedro, é que estou fazendo uma série de matérias e postando aos poucos, devido a falta de tempo para fazer uma maior.

Mas já foram (minhas próprias, fora as de outros autores):

Pedro Realmente esteve em Roma?

Pedro Simples Presbítero? (Que será também depois completada na refutação a um protestante que colocarei aqui outro dia.)

Pedro foi bispo de Roma! Testemunhos Primitivos.

E agora esta aqui, fundamentando Pedro como a Rocha de Mateus 16, 18, onde vamos analisar 3 fontes: Idiomática e Bíblica (juntas) e Patrística na Parte II.

Um aviso aos neófitos protestantes. Se quiserem se meter a refutar esta matéria, o faça no mesmo nível dela, com argumentações, em grego, aramaico, bíblicas e patrísticas todas em harmonia entre si, caso contrário todos os delírios serão ignorados.

Então vamos lá.

IDIOMÁTICA E BÍBLICA

Em Aramaico temos duas palavras para designar materiais rochosos:

1º  Evna = Pedra

2º Kepha  כף (ou cefas, transliterado para o grego) =  Rocha

Em Grego, assim como o aramaico, temos também 2 palavras:

1º Lithos (λθος), = Pedra pequena

2º Petra (πτρ ) = Rocha maciça, Pedra Grande (que é o equivalente de Kepha)

A Bíblia nos diz que Jesus deu um nome novo a um pescador que se chamava Simão e este nome foi “KEPHA” (Aramaico) e transliterado como “cefas”,  que no grego ficou “Petrus”, como podemos ver em João 1, 42:

“Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de Jonas, serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).” (Negrito meu)

Em aramaico não temos gênero, mas em grego sim, por isso a palavra Petra que é o equivalente a KEPHA (cefas) foi masculinizada para dar nome a um homem, Petrus, mas o significado permaneceu o mesmo (Rocha ou pedra grande) como é atestado nos seguintes Léxicos protestantes:

CONCORDÂNCIA STRONG

4074 πετρος Petros Pedro = “uma rocha ou uma pedra”
1) um dos doze discípulos de Jesus

 FRIBERG, ANALYTICAL GREEK LEXICON

“Πτρος, ου, Pedro, nome próprio masculino dado como um título descritivo para Simão, um dos apóstolos (MK 3.16), o significado do nome, a pedra, é provavelmente o equivalente grego de uma palavra aramaica transliterada como Κηφς (João 1,42 )”

THAYER, GREEK LEXICON OF NT

Πτρος, Πτρου, – um nome próprio apelativo, o que significa “uma pedra”, “uma rocha,” “rochedo “”.

Em português a diferença entre Pedro e Pedra não permite acentuar a força do original aramaico e grego que é a mesma palavra que designa a materialidade da rocha.

 A CONCORDÂNCIA STRONG, que é tão utilizada pelos protestantes brasileiros, diz que Cefas ou Kepha é Rocha, leiam:

 “03710 כף (keph)
Procedente de 3721, grego 2786 κηφας (cefas); DITAT – 1017; n m
1) rocha, cavidade duma rocha” (o parênteses em vermelho foi  adicionado por mim)

Os próprios protestantes em seus léxicos confirmam que o nome de Pedro Significa “ROCHA” ou “PEDRA”.

 Mais algumas passagens com o nome de “Cefas”.

 1Co 1:12 Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo.

1Co 3:22 Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso,

1Co 9:5 Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?

1Co 15:5 E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.

Gal 2:9 E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão;

 Refutando Algumas objeções dos que dizem que:

1 º O significado do nome de Petrus é Pedregulho.

Não existe nenhum prova para isto, até por que no NT Petrus só é designado para Pedro. E para nada mais.

2º O significado do nome Petrus é pequena pedra para arremessar.

Isso não existe no grego Koiné. No Grego Koiné usa-se a palavra “lithos” para significar “uma pedrinha ou uma pedra para arremessar” como podemos constatar no caso da mulher adúltera (João 8, 7) ou de Jesus (João 8, 59).

João 8, 7 Ὡς δὲ ἐπέμενον ἐρωτῶντες αὐτόν, ἀνακύψας εἶπεν πρὸς αὐτούς, Ὁ ἀναμάρτητος ὑμῶν, πρῶτον ἐπ᾽ αὐτὴν τὸν λθον βαλέτω.

Tradução: “Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.

John 8:59 Ἦραν οὖν λθους ἵνα βάλωσιν ἐπ᾽ αὐτόν· Ἰησοῦς δὲ ἐκρύβη, καὶ ἐξῆλθεν ἐκ τοῦ ἱεροῦ, διελθὼν διὰ μέσου αὐτῶν·

Tradução: “Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.”

Pedra de arremesso nunca foi nem será Petrus.

E para azar e confusão na cabeça dos protestantes que sustentam esta mesma idéia Jesus em 1 Pedro 2,4 é chamado de “Lithos” a mesma palavra em gênero, número, grau e declinação que foi usada para a Pedra de arremesso da adúltera e das pedras jogadas em Jesus.

1 Pd 2:4 “πρὸς ὃν προσερχόμενοι λθον ζῶντα ὑπὸ ἀνθρώπων μὲν ἀποδεδοκιμασμένον παρὰ δὲ θεῷ ἐκλεκτὸν ἔντιμον..”

Tradução “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa…”

Seria também Jesus uma pequena pedrinha de arremesso? E não a grande Rocha da Salvação?

Gostaria de ver algum protestante respondendo isto!

3º O significado do nome Petrus é pequena pedra igual as demais como citado em sua epistola.  

Não existem bases ou sustentações para afirmar que “Petrus” significa “pedra pequena” porque para isto a Bíblia utiliza outra palavra (lithos ou lithon) como foi mostrado.

E vejam:

1 Pd 2:5 καὶ αὐτοὶ ὡς λθοι ζῶντες οἰκοδομεῖσθε οἶκος πνευματικός, ἱεράτευμα ἅγιον, ἀνενέγκαι πνευματικὰς θυσίας εὐπροσδέκτους τῷ θεῷ διὰ Ἰησοῦ χριστοῦ.

Tradução: Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

Ou seja, a palavra “Lithos” que é usada para Jesus em 1 Pd 2, 4 se referindo a Jesus é novamente utilizada em grau e gênero para os demais Cristãos em 1 Pd 2, 5.

E ainda aparecem protestante vindo dizer que a rocha ou Pedra só pode ser utilizada para Jesus.

Em outras passagens Jesus também é chamado de PETRA, assim como Pedro. Mas isso não tira a magnitude de Jesus como rocha da Salvação, nem da função de Pedro como Rocha da Unidade da Igreja.

Penso que por aqui já basta a explanação sobre o nome de Pedro, agora vamos a linda passagem do evangelho de Mateus que é o foco desta matéria.

Em Mateus 16, 18 lemos:

“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Em Grego:

“κἀγὼ δέ σοι λέγω ὅτι σὺ εἶ Πτρος, κα π τατ τ πτρ οἰκοδομήσω μου τὴν ἐκκλησίαν καὶ πύλαι ᾅδου οὐ κατισχύσουσιν αὐτῆς.

Vejamos em aramaico este trecho em negrito na Bíblia Peshita (Tradução do grego para o aramaico do século V)

(lê se da direita pra esquerda)

Veja que não há diferença entre a rocha (em aramaico) e o nome de Pedro (em aramaico).

Agora analisaremos duas palavras em especial.

Voltemos ao grego de Mateus 16, 18:

“κἀγὼ δέ σοι λέγω ὅτι σὺ εἶ Πτρος, κα π τατ τ πτρ οἰκοδομήσω μου τὴν ἐκκλησίαν καὶ πύλαι ᾅδου οὐ κατισχύσουσιν αὐτῆς.

Note as duas palavras em vermelho que são τατ τ   que quase todas as traduções (católicas e protestantes) traduzem simplesmente por esta”.

Vamos fazer uma analise:

τατ  (tauth) é o dativo feminino de οτος (outós) e sua tradução simples é “esta”. E serve para dar ênfase a algo previamente mencionado.

τ (th) é também o dativo feminino e (o)  e é o artigo da frase ou seja sua tradução é “a”.

Estas duas palavras juntas  τατ  + τ,  tem o sentido ou tradução de “esta mesma”, “esta própria”.

Então juntando o nome de Pedro que foi previamente confirmado como ROCHA, e PETRA que também foi confirmada como ROCHA, pelos léxicos protestantes, podemos traduzir Mateus 16, 18 da seguinte forma:

“TU ÉS ROCHA E SOBRE ESTA MESMA ROCHA, EU EDIFICAREI A MINHA IGREJA.”

A pergunta que todo protestante faria ao ver isto “então por que as traduções católicas não traduzem assim?”

A Resposta : Por que o artigo, no grego, depois de um pronome demonstrativo não precisa ser traduzido já é sub-entendido, então se traduz somente o “esta” na maioria das vezes, mas o sentido continua o mesmo.

Além disso São Jerônimo traduziu  para o Latim da seguinte forma “HANC PETRAM” ou seja “Esta mesma Rocha“.

HANC no latim tem o sentido próprio de “esta mesma”, “esta própria” assim como τατ  + τ no grego. São Jerônimo, como falava fluentemente o grego Koiné, sabia muito bem o sentido real da passagem, quando ele trauziu a vulgata o grego Koiné ainda era “Vivo”.

E agora para o desespero de protestantes que apesar de tudo o que aqui foi demonstrado até agora ainda estejam duvidando, vou usar a própria bíblia João Almeida para provar que τατ  + τ tem o sentido e também tradução de “esta mesma”, apesar da maioria das passagens que contém estas duas palavras os tradutores não traduzam assim, por que já está implícito. Vou pegar aqui 1 passagem que a própria João Almeida confirma o que eu estou dizendo.

Antes que algum protestante venha com conversinha de versão da bíblia João Almeida, estou utilizando aqui 4 versões da mesma que traduzem a passagem do mesmo jeito em todas.

Vejamos em Atos 27, 23:

Grego:

 Atos 27, 23  παρέστη γάρ μοι τατ τ νυκτὶ τοῦ θεοῦ, οὗ εἰμι [ἐγώ] ᾧ καὶ λατρεύω, ἄγγελος

João Almeida

Atos 27, 23 Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo.

Podem conferir ai no grego e em suas bíblias.

Ai vai vim um protestante me dizer que viu em sua bíblia as palavras “esta mesma” e no grego não estavam escritas como τατ τ.  

 Como eu já disse  τατ e τ estão no dativo, declinadas, ou seja conjugadas. No português só temos conjugação para verbos na maioria das vezes, mas no grego não, acontece também com pronomes e substantivos, as palavras “esta mesma” podem ser encontradas também desta forma τατην τν, onde ταύτην equivale a τατ e τν equivale a τOnde não há nenhuma diferença entre as mesmas, apenas a declinação.

Portanto podemos dizer com clareza a quem quiser ouvir, PEDRO É A ROCHA.

 “TU ÉS ROCHA E SOBRE ESTA MESMA ROCHA, EU EDIFICAREI A MINHA IGREJA.”

 Na parte II desta matéria veremos os  vários testemunhos patrísticos a respeito disso.

Bibliografia Utilizada:

1 –  Malzoni, Cláudio Vianney, 25 Lições de Iniciação ao Grego do novo testamento/ Cláudio Vianney Malzoni. – 1. Ed. – São Paulo: Paulinas, 2009 (Coleção Línguas Bíblicas).

2 – Dicionário de Grego do Novo Testamento / Carlo Rusconi; [Tradução Rabuske] – São Paulo : Paulus 2003. – (Dicionários)

3 –Strong, James –  Exaustiva Concordância –  Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong.  Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo : Sociedade Bíblica do Brasil 2002.

4 – Friberg, Analytical Greek Lexicon.

 5 – Thayer, Greek Lexicon Of Nt.

 

Reflexões Sobre Primado de Pedro

Publicado: 19 de janeiro de 2011 por Rafasoftwares em Teologia

Jesus Cristo fundou uma Igreja monárquica, conferindo a S. Pedro o Primado de jurisdição sobre toda a Igreja.

Argumento escriturístico. O Primado de S. Pedro deduz-se das palavras da promessa e das palavras da colação do primado.

Palavras da promessa. As palavras com que Jesus Cristo prometeu a S. Pedro o primado de jurisdição foram conferidas em Cesaréia de Filipo. Jesus interrogara os discípulos para que dissessem que opiniões corriam a seu respeito. S. Pedro em seu próprio nome, por inspiração espontânea, confessou que “Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo”.

Foi então que o Salvador lhe dirigiu as célebres palavras: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de João, porque não foram a carne nem o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra será desligado nos céus” (Mat. 16, 17-19).

Ponhamos em relevo três pontos deste texto, que provam a nossa tese: Jesus muda o nome de Simão em Pedro. Ora, segundo o uso bíblico, a mudança de nome é sinal de um benefício.

Quando Deus quis estabelecer uma aliança com Abraão e constituí-lo pai dos crentes mudou-lhe o nome de Abram em Abraão (Gen. 17, 4s).

No nosso caso, o novo nome dado por Jesus a Simão, simboliza a missão que Jesus quer lhe confiar. Para o futuro Simão chamar-se-á Pedro, porque há de ser a pedra, ou a rocha sobre a qual Jesus quer fundar a sua Igreja. O trocadilho, que tem toda a sua força na língua aramaica, na qual o nome “Kepha” dado por Jesus á Pedro é masculino e significa rocha, pedra, desaparece em grego e em latim, porque nessas línguas Pedro se diz Petros ou Petrus, e rocha, petra. Pedro será, com respeito à sociedade cristã, à Igreja de Cristo, o que é a rocha com respeito ao edifício: fundamento sólido que assegurará a estabilidade de todo o edifício, rochedo inabalável, que desafiará os séculos, e sobre o qual se virão quebrar as portas do inferno, ou por outras palavras, os assaltos e o poder do demônio.

Finalmente as chaves do reino dos céus foram confiadas a S. Pedro. A entrega das chaves é um privilégio insigne e especial que confere um poder absoluto. Compara-se o reino dos céus a uma casa. Ora, só poderá entrar em casa quem tem as chaves em seu poder, e aqueles a quem ele quiser abrir a porta. Pedro é constituído único intendente da casa cristã, único introdutor do reino de Deus. É inútil insistir mais. A promessa de Cristo é tão clara que não pode haver dúvida acerca da sua significação. Só a Pedro se muda o nome, só ele é chamado fundamento da futura Igreja, só a ele serão entregues as chaves; se as palavras têm algum sentido, só podem significar o primado de Pedro.

Objetam os adversários, segundo sempre a mesma tática, que a passagem da questão não é autêntica e que foi interpolada quando a Igreja tinha já completado a sua evolução e adquirido a forma católica. A prova está em que só Mateus refere as palavras de Nosso Senhor.

Resposta. A objeção fundada no silêncio de S. Marcos e de S. Lucas não tem valor algum. A dificuldade teria alguma força se os adversários conseguissem provar que a narração dessa passagem era exigida pelo assunto que tratavam. Ora, não conseguem fazer essa demonstração; logo, o silêncio dos dois sinóticos deve atribuir-se a motivos literários, que não admitiam a entrada do texto nas suas narrativas.

Palavras da colação. Duas passagens do Evangelho nos atestam que Jesus conferiu efetivamente a Pedro o poder supremo que lhe tinha prometido.

Missão, confiada a Pedro, de confirmar os seus irmãos. Algum tempo antes da Paixão, Jesus anunciou aos apóstolos a sua falta próxima. Quando predisse a de Pedro declarou que tinha orado especialmente por ele:

“Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu com insistência para vos joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que não desfaleça a tua fé; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Luc. 22, 31s).

Quando os Apóstolos, depois de sucumbir à tentação, se erguerem de sua queda, purificados das fraquezas do passado pela prova, como o crivo que aparta a palha do grão, é Simão que tem a missão de os confirmar. Essa missão supõe evidentemente o primado de jurisdição.

S. Pedro é nomeado o pastor das ovelhas de Cristo. A cena passa-se após a Ressurreição. Eis como se refere S. João (João 21, 15-17): Três vezes perguntou Jesus a Pedro se o amava e três vezes Pedro fez protestos de amor e dedicação inabalável. Então o Salvador, sabendo que estava na véspera de deixar os seus discípulos, confia a Pedro a guarda do seu rebanho, isto é, confia-lhe e cuidado de toda a cristandade, dos cordeiros e das ovelhas.“Apascenta os meus cordeiros”, repete duas vezes; e à terceira: “apascenta as minhas ovelhas”.

Ora, conforme o uso corrente nas línguas orientais, a palavra “apascentar” significa governar. Apascentar os cordeiros e as ovelhas é, portanto, governar com autoridade soberana a Igreja de Cristo; é ser o chefe supremo; é ter o primado.

Argumento histórico. Se encararmos a questão somente sob o aspecto histórico, temos duas teses opostas ntre si: a racionalista e a católica.

Tese racionalista. Segundo os racionalistas, o texto “tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja”“só teve o sentido e o alcance dogmático, que os teólogos papistas atribuíram no século III, quando os Bispos de Roma dele se tiveram necessidade de fundar as suas pretensões então nascentes” (Sabatier, op. cit., p. 209).

O Primado de S. Pedro nunca foi reconhecido pelos outros apóstolos, mormente por S. Paulo, que nem sempre nomeia Pedro em primeiro lugar (I Cor. 1, 12; 3, 22; Gal. 2, 9), nem receia “resistir-lhe abertamente” (Gal. 2, 11).

Tese católica. Nos Atos dos Apóstolos encontra, o historiador católico, numerosos testemunhos para provar que S. Pedro exerceu o primado desde os primeiros dias da Igreja nascente.

Depois da Ascensão, S. Pedro propõe a eleição de um discípulo para ocupar o lugar de Judas e completar o colégio dos Doze (At. 1, 15-22).

É ele o primeiro que prega o Evangelho aos judeus no dia de Pentecostes (At. 2, 14; 3, 16). É S. Pedro que, inspirado por Deus recebe na Igreja os primeiros gentios (At. 10, 1).

Visita as igrejas (At. 9, 32). No Concílio de Jerusalém põe termo à longa discussão que ali se trava, decidindo que não se deve impor a circuncisão aos pagãos convertidos, e ninguém ousou opor-se à sua decisão (At. 15, 7-12). Se S. Tiago fala, depois de S. Pedro ter emitido o seu parecer, não foi para discutir a sua opinião, mas unicamente porque, sendo Bispo de Igreja de Jerusalém, julgou que se deviam impor aos gentios algumas prescrições da lei mosaica, cuja infração podia escandalizar os cristãos de origem judaica, que constituíam a maior parte do seu rebanho. Pedia S. Tiago que os gentios se abstivessem:

Dos alimentos oferecidos aos ídolos;

Da impureza, que os pagãos não consideravam como falta grave;

Das carnes sufocadas;

Do sangue, cujo uso estava interdito aos judeus (At. 17, 20).

No parecer de S. Tiago essas prescrições evitariam o escândalo dos fracos e serviriam para aplanar dificuldades entre os cristãos de diversas proveniências.

Objetam alguns que S. Paulo nunca reconheceu o primado de S. Pedro. Como se explica neste caso que, três anos depois da conversão, foi a Jerusalém expressamente para o visitar? (Gal. I, 18s). Porque não foi antes a S. Tiago (que era o Bispo de Jerusalém) a aos outros? Não será esta uma prova evidente de que o reconhecia como chefe dos Apóstolos?

Porque é que S. Paulo, replicam, não nomeiam Pedro sempre em primeiro lugar? A razão é simples. S. Paulo nunca faz menção de todo o colégio apostólico, e apenas fala incidentalmente de alguns. As vezes, como sucede na sua Epístola aos Coríntios (I Cor. I, 12), nomeia-os em gradação ascendente, pondo o nome de Cristo depois do nome de S. Pedro. Mas, dizem os racionalistas, não devemos esquecer-nos do conflito de Antioquia, no qual S. Paulo resistiu aberta e publicamente a S. Pedro. Para que os adversários não julguem que procuramos fugir das dificuldades, referiremos aqui o caso com as próprias palavras de Paulo (Gal. 2, 11-14):

“Quando Cefas veio a Antioquia, eu resisti-lhe abertamente, porque era repreensível. Com efeito, antes de chegarem os que tinham estado com Tiago, ele comia com os gentios: mas depois que eles chegaram, subtraía-se e separava-se dos gentios, temendo ofender os que eram circuncidados. E os outros judeus consentiram na sua simulação. Mas quando eu vi que eles não andavam retamente conforme a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como os judeus, porque obrigas tu os gentios a viver como judeus?”

Como se vê nessa passagem, o conflito originou-se da famosa questão, levantada pelos judaizantes, a saber, e a lei judaica era obrigatória e se era preciso passar pela circuncisão para entrar na Igreja cristã. Ora, os dois apóstolos – fixemos bem este ponto – estiveram sempre de acordo, defendendo ambos a negativa; portanto, nunca houve conflito entre eles no terreno dogmático. O litígio consistia em que S. Pedro, para não provocar as recriminações dos judaizantes, absteve-se de comer com os gentios que se tinham convertido sem passar pelo judaísmo.

Esta maneira de proceder podia ser diversamente interpretada. Podia ser uma simples medida de prudência justificada pelo fim que se queria obter. Sendo um, apóstolo dos circuncidados e outro dos incircuncisos, não é para admirar que os dois apóstolos tenham adotado posturas diferentes nesta questão disciplinar. Não se conta porventura nos Atos dos Apóstolos que o próprio S. Paulo, numa circunstância idêntica, procedeu do mesmo modo, circuncidando Timóteo por causa dos judeus que havia naquelas regiões (Lístria e Icônio), apesar das suas convicções serem diversas? (At. 16, 3).

Também se podia tomar o procedimento de S. Pedro por covardia ou hipocrisia: deste modo o julgou S. Paulo. Pensou que para evitar as funestas conseqüências do procedimento de S. Pedro, devia repreendê-lo. É um caso de correção fraterna dada por um inferior, e na qual este parece ter faltado na moderação e deferência devidas a um superior hierárquico, deixando levar-se por um zelo indiscreto.

Se S. Paulo, objetamos nós, dava tanta importância ao procedimento de S. Pedro, não será porque a sua influência nas Igrejas era maior e mais incontestável? Logo, podemos concluir que o conflito de Antioquia, longe de ser um argumento contra o primado da Pedro, é testemunho em seu favor.

Referencias: (Conego A. Boulenger, Manual de Apologética. cit., p. 31-34)

Concílios Cristológicos e o Combate as Heresias – II

Publicado: 22 de novembro de 2010 por Rafasoftwares em Teologia

Mais uma parte da série que estou postando sobre os Concílios, quem não leu a primeira matéria Clique aqui para Lê-la, é importante para que entenda está.

Este é o Concílio de Calcedônia, aconteceu em 451 e combateu mais uma heresia, desta vez do monge Êutiques, que acreditava que a humanidade de Cristo havia sido absorvida pela divindade quando este se fez carne no ventre de Maria!

Vocabulário:

União hipostática(união mística ou dupla natureza de Cristo) =  é a doutrina clássica da cristologia que afirma ter Jesus Cristo duas naturezas, sendo homem e Deus ao mesmo tempo.

Soteriológica (vem de soteriologia) = o estudo da salvação humana. A palavra é formada a partir de dois termos gregos Σοτεριος [Soterios], que significa “salvação” e λογος [logos], que significa “palavra”, ou “princípio”.

consubstancial = que só possui uma substância ( ou tem a mesma substancia)

O concílio de Calcedônia – 451

Éfeso explicou o significado da encarnação nos termos da “união hipostática”. Desse modo, realçou a unidade, mas prescindiu a distinção entre a divindade e a humanidade. E é nesse ponto, exatamente, que Calcedônia completa Éfeso. Além disso, Calcedônia apresenta um avanço também no vocabulário expositivo do mistério de Jesus Cristo.

Na verdade, a problemática de Calcedônia centra-se na questão da humanidade de Jesus, ou seja: se o Verbo de Deus assumiu em si a natureza humana, o que acontece a essa natureza, no processo de união? Mantém-se em sua realidade humana ou é absorvida pela divindade do Filho de Deus?

A “Fórmula da União” acatada por João de Antioquia e Cirilo de Alexandria declarava que o filho de Deus é “Consubstancial (homousios) conosco, segundo a humanidade”, Qual o sentido disso?

Êutiques, monge de Constantinopla, admitia que Cristo provém de (ek) duas naturezas, mas sem permanecer em (en) duas naturezas após o processo de união. Para ele, essa união foi como uma “mistura” (krasis), em que o humano foi absorvido pelo divino e, conseqüentemente, Cristo não é “consubstancial” conosco, na humanidade.

Utilizando-se de expressões polêmicas de Cirilo e ainda alternando o sentido delas, Êutiques acabou defendendo que, mantida a união, só há em Cristo uma única natureza, já que a natureza humana se diluiu na divina. Punha-se em perigo, assim,mais uma vez a realidade da mediação singular de Jesus Cristo entre Deus e a humanidade. Se esta é absorvida pela divindade do Verbo, Jesus realizada a união, não é mais verdadeiramente homem. E, anulando-se a verdade da mediação de Cristo, desfaz-se, de novo, a realidade escandalosa da encarnação. Essas foram as implicações do monofisismo.

Nesse contexto, o papa Leão Magno escreveu ao patriarca de Constantinopla, Flaviano, uma carta dogmática, chamada “Tomus”. O pontífice concorda aí com Cirilo de Alexandria, afirmando a unidade de Cristo: “Ele nasceu com a íntegra e perfeita natureza verdadeiro homem e verdadeiro Deus , completo (como Deus e como homem)…”. mas sua linguagem está mais próxima da escola antioquena. Como a “Fórmula da União”, Leão Magno também fala, explicita e deliberadamente, de “duas naturezas”, cada uma delas com suas características: “Preservadas a propriedade de uma e a de outra, elas se unem numa só pessoa”; ambas completam, em comunhão mútua, o que é próprio ( de cada uma)…”.

Fica ainda por se articular o acordo de linguagem entre a corrente antioquena, representada pela “Tomus” de Leão a Flaviano, e a escola de Alexandria, exemplificada pela carta de Cirilo a Nestório.

O significado de Calcedônia

A definição de Calcedônia (451), acrescentadas algumas cláusulas explicativas, constitui nova atualização do ministério revelado de Jesus cristo, em plena conformidade como a tradição da Igreja. Ela tem duas partes: a primeira retoma a doutrina anterior sobre Jesus Cristo, a esteira, em geral, da “Fórmula da União”; a segunda abrange esclarecimentos ulteriores, lançando mão de conceitos helenistas.

A primeira parte da definição toma como ponto inicial a união da divindade com a humanidade em Jesus Cristo. No bojo dessa unidade, estabelece-se a distinção das duas naturezas: “ele mesmo” é consubstancial com o Pai, pela divindade, e conosco, pela humanidade. Diante do reducionismo monofisista, impunha-se a acrescentar a consubstancialidade de Jesus conosco, na humanidade. Assim se respondeu à questão levantada por Êutiques: a natureza humana de Jesus mantém-se integra e autêntica nessa união, não obstante a exceção ao pecado (Hb 4, 15). Contudo, pode-se perceber que, aplicado ás duas naturezas, o termo “consubstancial” não carrega, exatamente o mesmo significado. Se, quanto à divindade, afirma-se a consubstancialidade numérica do Pai com o Filho, coisa que o Concílio de Nicéia não fizera, no caso da humanidade proibi-se, como é natural, a consubstancialidade específica de Jesus conosco. Analisados os dois componentes do próprio Cristo à luz da escola antioquena, o final da primeira parte da definição volta-se para a dupla origem dele, gerado pelo Pai desde toda a eternidade, como Deus, e gerado em Maria, no tempo, em sua humanidade. Dessa forma, a definição se aproxima do esquema de Éfeso, referindo-se então à história e à razão soteriológica que levou o Filho de Deus a se fazer homem: “nos últimos dias”, “por nós e pela nossa salvação”.

A dupla “solidariedade” com o divino e o humano, implicada na motivação soteriológica, é também ressaltada pelo título dado a Maria de “Mãe de Deus” (theotokos). Por isso, Calcedônia liga-se, de fato, a Éfeso.

Mas a segunda parte da definição encerra outros esclarecimentos, em linguagem filosófica, visando mostrar como coexistem no mistério de Jesus Cristo a unidade e a distinção. Agora, distinguem-se, claramente, os conceitos de pessoa (hypostasis, prosópon) e natureza (physis). O mesmo Senhor e Cristo, o Filho unigênito do Pai, é uno em duas naturezas, “sem confusão, nem mudança” (contra Êutiques) e “sem divisão nem separação” (Contra Nestório).

A expressão “em” (en) duas naturezas destaca que a dualidade continua depois da união. Cristo não é somente “de” (ek) duas naturezas, como Êutiques defendia, mas é também duas naturezas. Portanto, a união hipostática do verbo com a humanidade mantém a alteridade da humanidade na mesma pessoa. A humanidade não é absorvida pela divindade , como pretendia Êutiques. “Sem divisão e nem separação” indica que as duas naturezas não se justapõe apenas, como se fossem sujeitos a subsistentes distintos. O que pertence a cada uma das duas naturezas fica “salvaguardado”, confluindo, realmente, numa única pessoa (prosópon) e hipóstase (hypostasis). Jesus mesmo age como Deus e como homem, assim ele é, ao mesmo tempo, Deus e homem.

Assim, calcedônia elucida, em visão antioquena, a união hipostática que Éfeso expressara com enfoque alexandrino. A modalidade da união da divindade com a humanidade em Jesus Cristo revela-se inteiramente singular, mas só uma união assim se harmonizaria com sua condição única de mediador entre Deus e os homens.

Provas da Existência de Deus pela Metafísica

Publicado: 23 de setembro de 2010 por Rafasoftwares em Teologia

Depois de já ter colocado aqui as vídeos aulas do Prof. Orlando Fedeli, colocarei agora a parte escrita das mesmas. Apesar das divergências de pensamento, em alguns pontos da doutrina católica com o Professor, eu propago isso para o bem da Igreja e a salvação das almas.

Postei partes dessa matéria em uma comunidade de Ateus e pessoas de outras crenças não cristãs, e o que pude relatar é que é exatamente o que Orlando Fedeli retrata aqui, os ateus no fundo não tem duvidas que Deus exista, eles apenas querem que Ele não exista. Coloquei as partes, argumentei com eles e nenhum provou nada ao contrário apenas negam a existência de Deus e ponto.

Teve um cidadão que dizia que religião era uma alienação, ai depois do debate me disse que se eu achava que minha religião era boa que ficasse com ela, ele não acredita em Deus e vai continuar sem acreditar e que não adiantava mais discutir. Ora ele já estava me recomendando eu ficar na minha religião e não mais a sair dela. Se tivessem duvidas eles teriam argumentos para essas duvidas, mas não tem, na realidade o que seu coração deseja é que Deus não exista.

Depois disso pude constatar que um homem de Deus mesmo que ainda morto continua falando.

II Timóteo 1,18. O Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia junto do Senhor naquele dia. Sabes melhor que ninguém quantos bons serviços ele prestou…

Vamos ao Texto:

“Ninguém afirma: `Deus não existe’ sem antes ter desejado que Ele não exista“.

Esta frase, de um filósofo muito suspeito, por ser esotérico – Joseph de Maistre – tem muito de verdade.

Com efeito, o devedor insolvente gostaria que seu credor não existisse. O pecador que não quer deixar o pecado, passa a negar a existência de Deus.

Por isso, quando se dá as provas da existência de Deus para alguém, não se deve esquecer que a maior força a vencer não é a dos argumentos dos ateus, e sim o desejo deles de que Deus não exista. Não adiantará dar provas a quem não quer aceitar sua conclusão. Em todo caso, as provas de Aristóteles e de São Tomás a respeito da existência de Deus têm tal brilho e tal força que convencem a qualquer um que tenha um mínimo de boa vontade e de retidão intelectual.

É para essas pessoas que fazemos este pequeno resumo dos argumentos de São Tomás sobre a existência de Deus, tendo por base o que ele diz na Suma Teológica I, q.2, a.a 1, 2, 3 e 4.

Inicialmente, pergunta São Tomás se a existência de Deus é verdade de evidência imediata. Ele explica que uma proposição pode ser evidente de dois modos:

1) em si mesma, mas não em relação a nós;

2) em si mesma e para nós.

Uma proposição é evidente quando o predicado está incluído no sujeito. Por exemplo, a proposição o homem é animal é evidente, já que o predicado animal está incluso no conceito de homem.

Quando alguns não conhecem a natureza do sujeito e do predicado, a proposição – embora evidente em si mesma – não será evidente para eles. Ela será evidente apenas para os que conhecem o que significam o sujeito e o predicado. Por exemplo, a frase: “O que é incorpóreo não ocupa lugar no espaço”, é evidente em si mesma e é evidente somente aqueles que sabem o que é incorpóreo.

Tendo em vista tudo isso, São Tomás diz que:

a) A proposição “Deus existe” é evidente em si mesma porque nela o predicado se identifica com o sujeito, já que Deus é o próprio ente.

b) Mas, com relação a nós, que desconhecemos a natureza divina, ela não é evidente, mas precisa ser demonstrada. E o que se demonstra não é evidente. O que é evidente para nós não cabe ser demonstrado.

Portanto, a existência de Deus pode ser demonstrada. Contra isso, São Tomás dá uma objeção, dizendo que a existência de Deus é um artigo de fé. Ora, o que é de fé não pode ser demonstrado. Logo, concluir-se-ia que não se pode demonstrar que Deus existe. São Tomás ensina que há dois tipos de demonstração:

1) Demonstração propter quid (devido a que)

É a que se baseia na causa. Ela parte do que é anterior (a causa) discorrendo para o que é posterior ( o efeito).

2) Demonstração quia (porque)

É a que parte do efeito para conhecer a causa.

Quando vemos um efeito mais claramente que sua causa, pelo efeito acabamos por conhecer a causa. Pois o efeito depende da causa, e é, de algum modo, sempre semelhante a ela. Então, embora a existência de Deus não seja evidente apenas para nós, ela é demonstrável pelos efeitos que dela conhecemos.

A existência de Deus e outras verdades semelhantes a respeito dele que podem ser conhecidos pela razão, como diz São Paulo Rom. I, 19), não são artigos de fé. Deste modo, a fé pressupõe o conhecimento natural, assim como a graça pressupõe a natureza e a perfeição pressupõe o que é perfectível.

Entretanto, alguém que não conheça ou não entenda a demonstração filosófica da existência de Deus, pode aceitar a existência dele por fé.

É no artigo 3 dessa questão 2 da 1ª parte da Suma Teológica que São Tomás expõe as provas da existência de Deus. São as famosas 5 vias tomistas.

Iª Via – Prova do movimento

É a prova mais clara.

É inegável que há coisas que mudam. Nossos sentidos nos mostram que a planta cresce, que o céu fica nublado, que a folha passa a ser escrita, que nós envelhecemos, que mudamos de lugar, etc.

Há mudanças substanciais. Ex.: madeira que vira carvão. Há mudanças acidentais. Ex: parede branca que é pintada de verde. Há mudanças quantitativas. Ex: a água de um pires diminuindo por evaporação. Há mudanças locais. Ex: Pedro vai ao Rio.

Nas coisas que mudam, podemos distinguir:

a) As qualidades ou perfeições já existentes nelas.

b) as qualidades ou perfeições que podem vir a existir, que podem ser recebidas por um sujeito.

As perfeições existentes são ditas existentes em Ato.

As perfeições que podem vir a existir num sujeito são existentes em Potência passiva. Assim, uma parede branca tem brancura em Ato, mas tem cor vermelha em Potência.

Mudança ou movimento é pois a passagem de potência de uma perfeição qualquer (x) para a posse daquela perfeição em Ato.

M = PX —->> AX

Nada pode passar, sozinho, de potência para uma perfeição, para o Ato daquela mesma perfeição. Para mudar, ele precisa da ajuda de outro ser que tenha aquela qualidade em Ato.

Assim, a panela pode ser aquecida. Mas não se aquece sozinha. Para aquecer-se, ela precisa receber o calor de outro ser – o fogo – que tenha calor em Ato.

Outro exemplo: A parede branca em Ato, vermelha em potência, só ficará vermelha em Ato caso receba o vermelho de outro ser – a tinta – que seja vermelho em Ato.

Noutras palavras, tudo o que muda é movido por outro. É movido aquilo que estava em potência para uma perfeição. Em troca, para mover, para ser motor, é preciso ter a qualidade em ato. O fogo (quente em ato) move, muda a panela (quente em potência) para quente em ato.

Ora, é impossível que uma coisa esteja, ao mesmo tempo, em potência e em ato para a mesma qualidade.

Ex.: Se a panela está fria em ato, ela tem potência para ser aquecida. Se a panela está quente em ato ela não tem potência para ser aquecida.

É portanto impossível que uma coisa seja motor e móvel, ao mesmo tempo, para a mesma perfeição. É impossível, pois, que uma coisa mude a si mesma.

Tudo o que muda é mudado por outro.

Tudo o que se move é movido por outro.

Se o ente 1 passou de Potência de x para Ato x, é porque o ente 1 recebeu a perfeição x de outro ente 2 que tinha a qualidade x em Ato.

Entretanto, o ente 2 só pode ter a qualidade x em Ato se antes possuía a capacidade – a potência de ter a perfeição x.

Logo, o ente 2 passou, ele também, de potência de x para Ato x. Se o ente 2 só passou de PX para AX, é porque ele também foi movido por um outro ente, anterior a ele, que possuía a perfeição x em Ato.

Por sua vez, também o ente 3 só pode ter a qualidade x em Ato, porque antes teve Potência de x e só passou de PX para AX pela ajuda de outro ente 4 que tinha a qualidade x em Ato. E assim por diante.

PX —> AX PX (5) —> AX PX (4) —> AX PX (3) —> AX PX (2) —> AX (1)

Esta seqüência de mudanças ou é definida ou indefinida. Se a seqüência fosse indefinida, não teria havido um primeiro ser que deu início às mudanças.

Noutras palavras, em qualquer seqüência de movimentos, em cada ser, a potência precede o ato. Mas, para que se produza o movimento nesse ser, é preciso que haja outro com qualidade em ato.

Se a seqüência de movimentos fosse infinita, sempre a potência precederia o ato, e jamais haveria um ato anterior à potência. É necessário que o movimento parta de um ser em ato. Se este ser tivesse potência, não se daria movimento algum. O movimento tem que partir de um ser que seja apenas ato.

Portanto, a seqüência não pode ser infinita.

Ademais, está se falando de uma série de movimentos nas coisas que existem no universo.

Ora, esses movimentos se dão no espaço e no tempo. Tempo-espaço são mensuráveis. Portanto, não são movimentos que se dão no infinito.

A seqüência de movimentos em tempo e espaço finitos tem que ser finita.

E que o universo seja finito se compreende, por ser ele material. Sendo a matéria mensurável, o universo tem que ser finito.

Que o universo é finito no tempo se comprova pela teoria do Big Bang e pela lei da entropia. O universo principiou e terá fim. Ele não é infinito no tempo.

Logo, a seqüência de movimentos não pode ser infinita, pois se dá num universo finito.

Ao estudarmos as cinco provas de S. Tomás sobre a existência de Deus, devemos ter sempre em mente que ele examina o que se dá nas “coisas criadas”, para, através delas, compreender que existe um Deus que as criou e que lhes deu as qualidades visíveis, reflexos de suas qualidades invisíveis e em grau infinito.

Este primeiro motor não pode ser movido, porque não há nada antes do primeiro. Portanto, esse 1º ente não podia ter potência passiva nenhuma, porque se tivesse alguma ele seria movido por um anterior. Logo, o 1º motor só tem ATO. Ele é apenas ATO, isto é, tem todas as perfeições.

Este ser é Deus.

Deus então é ATO puro, isto é, ATO sem nenhuma potência passiva. Este ser que é ato puro não pode usar o verbo ser no futuro ou no passado. Deus não pode dizer “eu serei bondoso”, porque isto implicaria que não seria atualmente bom, que Ele teria potência de vir a ser bondoso.

Deus também não pode dizer “eu fui”, porque isto implicaria que Ele teria mudado, isto é, passado de potência para Ato. Deus só pode usar o verbo ser no presente. Por isso, quando Moisés perguntou a Deus qual era o seu nome, Deus lhe respondeu “Eu sou aquele que é” (aquele que não muda, que é ato puro).

Também Jesus Cristo ao discutir com os fariseus lhes disse: “Antes que Abraão fosse, eu sou” (Jo. VIII, 58). E os judeus pegaram pedras para matá-lo porque dizendo eu sou Ele se dizia Deus.

Na ocasião em que foi preso, Cristo perguntou: “a quem buscais ?”, e, ao dizerem “a Jesus de Nazaré”, ele lhes respondeu:

Eu sou“. E a essas palavras os esbirros caíram no chão, porque era Deus se definindo.

Do mesmo modo, quando Caifás esconjurou que Cristo dissesse se era o Filho de Deus, Ele lhe respondeu: “Eu sou”. E Caifás entendeu bem que Ele se disse Deus, porque imediatamente rasgou as vestes dizendo que Cristo blasfemara afirmando-se Deus.

Deus é, portanto, ATO puro. É o ser que não muda. Ele é aquele que é. Por isso, a verdade não muda. O dogma não muda. A moral não evolui. O bem é sempre o mesmo.A beleza não muda.


Quando os modernistas afirmam que a verdade, o dogma, a moral, a beleza evoluem, eles estão dizendo que Deus evolui, que Ele não é ATO puro. Eles afirmam que Deus é fluxo, é ação, é processo e não um ente substancial e imutável.

É o que afirma hereticamente a Teologia da Libertação. Diz Frei Boff:

” Assim, o Deus cristão é um processo de efusão, de encontro, de comunhão entre distintos enlaçados pela vida, pelo amor.” (Frei Boff, A Trindade e a Sociedade, p. 169)

Ou então:

“Assim, Mary Daly sugere compreendermos Deus menos como substância e mais como processo, Deus como verbo ativo (ação) e menos como um substantivo. Deus significaria o viver, o eterno tornar-se, incluindo o viver da criação inteira, criação que, ao invés de estar submetida ao ser supremo, participaria do viver divino.” (Frei Boff, A Trindade e a Sociedade, pp. 154-155)

É natural pois que Boff tenha declarado em uma conferência em Teófilo Otono:

Como teólogo digo: sou dez vezes mais ateu que você desse deus velho, barbudo lá em cima. Até que seria bom a gente se livrar dele.” (Frei Boff, Pelos pobres, contra a pobreza, p. 54)

IIª Via – Prova da causalidade eficiente

Toda causa é anterior a seu efeito. Para uma coisa ser causa de si mesma teria de ser anterior a si mesma. Por isso neste mundo sensível, não há coisa alguma que seja causa de si mesma. Além disso, vemos que há no mundo uma ordem determinada de causas eficientes.

Assim, numa série definida de causas e efeitos, o resfriado é causado pela chuva, que é causada pela evaporação, que é causada pelo calor, que é causado pelo Sol. No mundo sensível, as causas eficientes se concatenam às outras, formando uma série em que umas se subordinam às outras: A primeira, causa as intermediárias e estas causam a última. Desse modo, se for supressa uma causa, fica supresso o seu efeito. Supressa a primeira, não haverá as intermediárias e tampouco haverá então a última.

Se a série de causas concatenadas fosse indefinida, não existiria causa eficiente primeira, nem causas intermediárias, efeitos dela, e nada existiria. ora, isto é evidentemente falso, pois as coisas existem. Por conseguinte, a série de causas eficientes tem que ser definida. Existe então uma causa primeira que tudo causou e que não foi causada.

Deus é a causa das causas não causada. Esta prova foi descoberta por Sócrates que morreu dizendo: “Causa das causas, tem pena de mim”. A negação da Causa primeira leva à ciência materialista a contradizer a si mesma, pois ela concede que tudo tem causa, mas nega que haja uma causa do universo.

O famoso físico inglês Stephen Hawkins em sua obra “Breve História do Tempo” reconheceu que a teoria do Big-Bang (grande explosão que deu origem ao universo, ordenando-o e não causando desordem, como toda explosão faz devido a Lei da entropia) exige um ser criador. Hawkins admitiu ainda que o universo é feito como uma mensagem enviada para o homem. Ora, isto supõe um remetente da mensagem. Ele, porém, confessa que a ciência não pode admitir um criador e parte então para uma teoria gnóstica para explicar o mundo.

O mesmo faz o materialismo marxista. Negando que haja Deus criador do universo, o marxismo se vê obrigado a transferir para a matéria as qualidades da Causa primeira e afirmar, contra toda a razão e experiência, que a matéria é eterna, infinita e onipotente. Para Marx, a matéria é a Causa das causas não causada.

IIIª Via – Prova da contingência

Na natureza, há coisas que podem existir ou não existir. Há seres que se produzem e seres que se destroem. Estes seres, portanto, começam a existir ou deixam de existir. Os entes que têm possibilidade de existir ou de não existir são chamados de entes contingentes. Neles, a existência é distinta da sua essência, assim o ato é distinto da potência. Ora, entes que têm a possibilidade de não existir, de não ser, houve tempo em que não existiam, pois é impossível que tenham sempre existido.

Se todos os entes que vemos na natureza têm a possibilidade de não ser, houve tempo em que nenhum desses entes existia. Porém, se nada existia, nada existiria hoje, porque aquilo que não existe não pode passar a existir por si mesmo. O que existe só pode começar a existir em virtude de um outro ente já existente. Se nada existia, nada existiria também agora. O que é evidentemente falso, visto que as coisas contingentes agora existem.

Por conseguinte, é falso que nada existia. Alguma coisa devia necessariamente existir para dar, depois, existência aos entes contingentes. Este ser necessário ou tem em si mesmo a razão de sua existência ou a tem de outro.

Se sua necessidade dependesse de outro, formar-se-ia uma série indefinida de necessidades, o que, como já vimos é impossível. Logo, este ser tem a razão de sua necessidade em si mesmo. Ele é o causador da existência dos demais entes. Esse único ser absolutamente necessário – que tem a existência necessariamente – tem que ter existido sempre. Nele, a existência se identifica com a essência. Ele é o ser necessário em virtude do qual os seres contingentes tem existência. Este ser necessário é Deus.

IVª Via – Dos graus de perfeição dos entes

Vemos que nos entes, uns são melhores, mais nobres, mais verdadeiros ou mais belos que outros. Constatamos que os entes possuem qualidades em graus diversos. Assim, dizemos que o Rio de Janeiro é mais belo que Carapicuíba. Nessa proposição, há três termos: Rio de Janeiro, Carapicuíba e Beleza da qual o Rio de Janeiro participa mais ou está mais próximo. Porque só se pode dizer que alguma coisa é mais que outra, com relação a certa perfeição, conforme sua maior proximidade, participação ou semelhança com o máximo dessa perfeição.

Portanto, tem que existir a Verdade absoluta, a Beleza absoluta, o Bem absoluto, a Nobreza absoluta, etc. Todas essas perfeições em grau máximo e absoluto coincidem em um único ser, porque, conforme diz Aristóteles, a Verdade máxima é a máxima entidade. O Bem máximo é também o ente máximo.

Ora, aquilo que é máximo em qualquer gênero é causa de tudo o que existe nesse gênero. Por exemplo, o fogo que tem o máximo calor, é causa de toda quentura, conforme diz Aristóteles. Há, portanto, algo que é para todas as coisas a causa de seu ser, de sua bondade, de sua verdade e de todas as suas perfeições. E a isto chamamos Deus.

Por esta prova se vê bem que a ordem hierárquica do universo é reveladora de Deus, permitindo conhecer sua existência, assim como conhecer suas perfeições. É o que diz São Paulo na Epístola aos Romanos (I, 19). E também é por isso que Deus, ao criar cada coisa dizia que ela era boa, como se lê no Gêneses ( I ). Mas quando a Escritura termina o relato da criação, diz que Deus, ao contemplar tudo quanto havia feito, viu que o conjunto da criação era “valde bona”, isto é, ótimo.

Pois bem, se cada parcela foi dita apenas boa por Deus como se pode dizer que o total é ótimo? O total deve ter a mesma natureza das parcelas, e portanto o total de parcelas boas devia ser dito simplesmente bom e não ótimo. São Tomás explica essa questão na Suma contra Gentiles. Diz ele que o total foi declarado ótimo porque, além da bondade das partes havia a sua ordenação hierárquica. É essa ordem do universo que o torna ótimo, pois a ordem revela a Sabedoria do Ordenador. Por aí se vê que o comunismo, ao defender a igualdade como um bem em si, odeia a ordem, imagem da Sabedoria de Deus. Odiando a imagem de Deus, o comunismo odeia o próprio Deus, porque quem odeia a imagem odeia o ser por ela representado. Nesse ódio está a raiz do ateísmo marxista e de sua tendência gnóstica.

Vª Via – Prova da existência de Deus pelo governo do mundo

Verificamos que os entes irracionais obram sempre com um fim. Comprova-se isto observando que sempre, ou quase sempre, agem da mesma maneira para conseguir o que mais lhes convém.

Daí se compreende que eles não buscam o seu fim agindo por acaso, mas sim intencionalmente. Aquilo que não possui conhecimento só tende a um fim se é dirigido por alguém que entende e conhece. Por exemplo, uma flecha não pode por si buscar o alvo. Ela tem que ser dirigida para o alvo pelo arqueiro. De si, a flecha é cega. Se vemos flechas se dirigirem para um alvo, compreendemos que há um ser inteligente dirigindo-as para lá. Assim se dá com o mundo. Logo, existe um ser inteligente que dirige todas as coisas naturais a seu fim próprio. A este ser chamamos Deus.

Uma variante dessa prova tomista aparece na obra “A Gnose de Princeton”. Apesar de gnóstica esta obra apresenta um argumento válido da existência de Deus.

Filmando-se em câmara lenta um jogador de bilhar dando uma tacada numa bola, para que ela bata noutra a fim de que esta corra e bata na borda, em certo ângulo, para ser encaçapada, e se depois o filme for projetado de trás para diante, ver-se-á a bola sair da caçapa e fazer o caminho inverso até bater no taco e lançar para trás o braço do jogador. Qualquer um compreende, mesmo que não conheça bilhar, que a segunda seqüência não é a verdadeira, que é absurda. Isto porque à segunda seqüência faltou a intenção, que transparece e explica a primeira seqüência de movimentos. Daí concluir com razão, a obra citada, que o mundo cego caminha – como a flecha ou como a bola de bilhar – em direção a um alvo, a um fim. Isto supõe então que há uma inteligência que o dirige para o seu fim. Há pois uma inteligência que governa o mundo. Este ser sapientíssimo é Deus.

Fonte: http://www.montfort.org.br/

Concílios Cristológicos e o combate as Heresias.

Publicado: 13 de setembro de 2010 por Rafasoftwares em Teologia

Vendo a grande necessidade que se tem de explicar alguns fatos históricos, doutrinários e dogmáticos da Igreja, resolvi fazer uma série de matérias para mostrar os fiéis católicos e também não católicos o que realmente aconteceu em momentos chaves da História da Igreja. Fatos que hoje vemos por ai deturpados e manipulados por muitas pessoas. Começarei com 2 concílios importantíssimos para a fé Cristã, Nicéia e Éfeso. Esses estudos serão baseados na matéria cristologia, ministrada no curso de teologia da Universidade Católica de Salvador e no livro Introdução a Cristologia.

Concílio de Nicea ou Nicéia – Ano 325

Problemática: Ário, Sacerdote Alexandrino, (por influencias helenistas[gregas]) negava que o filho de Deus fosse de natureza Igual ao Pai. Para ele, o Filho de Deus foi “gerado” (genetos) “feito”. O filho era inferior ao Pai. Afirmava que o filho de Deus tinha sido criado no tempo. Houve um tempo que o verbo não era.

Afirmar com propriedade a divindade do filho preexistente parecia contradizer tanto o monoteísmo da bíblia como o conceito filosófico da unicidade absoluta de Deus. Daí vem, precisamente, a argumentação de Ário, aduzindo de um lado, alguns textos do Antigo Testamento, especialmente Pr 8, 22 e, do outro, apelando para a “monarquia” divina, o neoplatonismo e a filosofia estóica do logos-criador.

Significado: o que se define é que o filho de Deus é tão divino quanto o Pai e igual a ele na divindade. Reconhece Cristo como filho de Deus. Palavras-chave: Unigênito (monogenés); substância (ousia); gerado (gennetos); da mesma substancia do Pai (homousis); fez-se carne (sarkótheis); fez-se homem (enanthrópésas).

Atualidade: o Concílio defendeu que Jesus é divino e humano. Ele é consubstancial ao Pai no Espírito e consubstancial a nós pela natureza – nesse Concílio produz-se o credo. Iluminado pelo Espírito Santo e esclarecido pelos Grandes Pais da Igreja, o Concílio definiu Jesus Cristo como Verdadeiro Deus, da mesma substancia (homoúsios) divina que o Pai. Principais atores: Constantino; Ário; Antanásio.

O Concílio de Nicéia (325), com a sua tentativa de explicar e estabelecer a “divindade” de Cristo, foi o marco que deu o novo ímpeto à interpretação do dogma “cristão”. Este concílio marcou o começo duma era, na qual concílios gerais da Igreja procuravam definir dogma com cada vez mais precisão.

Nicéia não é exemplo de helenização, mas de desenlenização, ou seja, exemplo de libertação da imagem cristã de Deus do impasse e das divisões para os quais o helenismo estava levando. Não foram os gregos que produziram Nicéia; foi Nicéia que superou os filósofos Gregos… A. Grillmeier.

Já discorremos sobre a Existência, no Novo Testamento, de dois enfoques na Cristologia, o “debaixo” e o “do alto”, e sobre a transição progressiva de um a outro.

Não Obstante a evidência geral, na transição pós bíblica, da mudança definitiva da abordagem funcional para a ontologia, ambas continuam existindo.

A Cristologia “de baixo” parte do homem Jesus, isto é, da condição ou natureza humana de Jesus, para se alçar até a sua divindade do filho de Deus. Na direção oposta, desenvolveu-se uma cristologia “do alto”, que tomou como ponto a partida a união na divindade do filho de Deus como o Pai, daí seguindo para a afirmação da verdadeira humanidade por ele assumida no ministério da Encarnação.

Nicéia mostrou, pois, o vinculo estreito entre Soteriologia (Estudo da Salvação) e Cristologia, entre o que Jesus é para nós e o que ele é em si mesmo. A Cristologia de Nicéia encaminha-nos, pois, a novas intuições do mistério de Deus: Jesus Cristo é verdadeiramente Deus, por que é o verdadeiramente filho de Deus.

Nicéia, diante da situação, usa a linguagem filosófica tentando unir as duas realidades: linguagem bíblica, que podemos chama – lá de contexto histórico-cultural e, a segunda sintonizada com o ambiente cultural de hoje.

“O Verbo de Deus fez – se homem e o filho de Deus fez – se filho do homem, para que o homem entre em comunhão com o Verbo de Deus, e por adoção, se torne filho de Deus. Realmente, não poderíamos ganhar de outra forma a eternidade e a imortalidade… se antes o Eterno e Imortal não se torna – se aquilo que somos” Santo Irineu

Algumas retificações:

Algumas pessoas dizem que a Igreja católica foi Criada nesse ano de 325, por que Constantino, que era o imperador, convocou  tal concílio, então ele supostamente ai teria Fundado a Igreja. Como vemos nessa explanação sobre o concílio de Nicéia, apesar do imperador ter o convocado, nada mais foi do que um concílio que defendeu a divindade de Jesus(e o confirmou como DOGMA de Fé), pra o combate a heresia Ariana e  a unidade da Igreja. Constantino ofereceu o transporte e a hospedagem aos bispos, pois tinha o interesse da unidade da Igreja, visto que muitas pessoas importantes tinham se tornado Cristãs e não seria uma boa  para ele ter essas divididas, apesar de ainda continuar pagão e só ser batizado no leito de morte.

O Papa da época Silvestre I (devido a locomoção ou problemas de saúde), não esteve presente nesse concílio, mas enviou seus representantes, podemos confirmar isso vendo a ata de assinaturas onde as primeiras assinaturas são as de seus representantes. A maioria dos Bispos veio do oriente, o que vale para os quatros concílios. Motivo: facilidade de participação e maior interesse teológico da parte oriental. Diferente dos ocidentais, os orientais vibraram com as questões teológicas e, para defender a verdade, achavam válida uma boa briga.

Concílio de Éfeso – Ano 431

Esse é um concílio que até hoje muitos pegam afirmações isoladas do contexto para afirmar que a Igreja Católica está cometendo heresias ao firmar certos Dogmas, mas vamos explicar tudo corretamente e ver como se dá a realidade do concílio.

Problemática: Em Éfeso, como em Nicéia, o problema era como entender a divindade de Jesus Cristo. Mas essa Questão foi vista sob perspectivas opostas num concílio e noutro. Em Nicéia, parte-se de baixo: Jesus é verdadeiramente Filho de Deus? Em Éfeso, ao contrário, parte – se do alto: Em que sentido e de que modo o Filho de Deus se fez homem em Jesus Cristo?   A questão, agora, é, diretamente, com o Filho de Deus e não mais com o homem Jesus e segue, conforme Jo 1, 14, o movimento da “encarnação” do Filho de Deus, para Inquirir a realidade e o modo de sua missão como homem Jesus.

Há nas duas visões o perigo de se criar distância entre Deus e o homem Jesus, mas, se em Nicéia isso significaria que Jesus não era verdadeiramente Deus, em Éfeso faria entender que o Filho de Deus, não sendo realmente Igual a ele, se apartasse do homem Jesus. Estava em foco, pois, a unidade de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. E ai se insere um escândalo do Filho de Deus. Dá para imaginar que o filho eterno de Deus tenha se sujeitado a si mesmo ao processo de desenvolvimento humano, a humilhação e à morte?

Nestório de Antioquia, depois patriarca de Constantinopla, tomou a questão da verdadeira unidade divino-humana de Jesus Cristo na direção ascendente, ou seja, a partir de baixo. Partindo, como a tradição antioquena, do homem Jesus, questionou o modo como ele se teria unido ao filho de Deus. Perfilhava, portanto, uma cristologia, do homo assumptus. Em pólo oposto, o bispo de Alexandria, Cirilo, defendia a perspectiva a partir do alto. Ele se perguntava, partindo do Verbo de Deus, como teria este assumido uma humanidade autentica em Jesus Cristo. Professavam, então, uma cristologia do logos-sarx.

Nessa contenda entre Nestório e Cirilo, sabe-se que pairava ambigüidade e confusão na terminologia. Ao falar de “uma só natureza” (physis) em Jesus, Cirilo entendia a unidade da pessoa (hypostasis), enquanto Nestório, aludindo a duas “naturezas” (physis), parecia realmente referir-se a duas pessoas (prosópon).

Agora vamos tratar de uma parte bem delicada e decisiva tratada neste concílio, que hoje não é aceita pelos protestantes, devido a deturpações históricas e a não aceitabilidade da autoridade da Igreja por eles.

Essa parte foi quando Nestório recusou a atribuir ao Verbo de Deus em pessoa as vicissitudes da existência humana de Jesus. Particularmente, o fato do homem Jesus ter sido gerado não poderia referir-se ao Filho de Deus e, por conseguinte, Maria não poderia ser chamada de “Mãe de Deus” (Theotokos), apenas “Mãe de Cristo” (Kristotokos). Surgiram, assim, dois sujeitos distintos: o Verbo de Deus, de um lado, e Jesus Cristo, de outro. Nestório concebia a unidade entre ambos em termos de “conjunção” (sunapheia), supondo, dessa forma dois sujeitos concretamente existentes.

Em outras palavras Jesus não seria Deus, seria um homem comum que teria sido habitado pelo Verbo de Deus. Por tanto não crer Maria como Theotokos (Mãe de Deus), significa necessariamente não crer que Jesus é o próprio Deus em Pessoa humana. Claro que ai o fato de ela ser chamada de Mãe de Deus não quer dizer que ela seja maior que Deus, mas sim que ela portou um Deus em seu ventre. Nossas mães nos geraram em seus ventres e são nossas mães, mas isso não significa que elas nos criaram.

Portanto a definição de Theotokos é nada mais, nada menos que a confirmação da divindade de Jesus.

Mas por que os protestantes duvidam disso? Além de não aceitarem a autoridade da Igreja, alguns fantasiam a história de que Diana (ou Artemis) (At. 19, 23-40) teria sido substituída por Maria como deusa dos Efésios, o que é um absurdo, pois como vimos além desse concílio ter combatido a heresia Nestoriana, destruiu de vez a adoração a Diana e realmente confirmou Jesus com DEUS encarnado, puro e único!

Feitos as devidas declarações, aqui me despeço.

In Cord Jesu, Semper,

Rafael Rodrigues.

Aula de Noção de Hebráico bíblico (2/9)

Publicado: 14 de junho de 2010 por Rafasoftwares em Teologia

1 Note que as palavras entre colchetes, na tradução, são necessárias em português, mas não estão no texto hebraico.

2 Vejam ai a Palavra “verúah” ou simplesmente “ruáh” que significa, “vento”, “sopro”, “espírito”, aqui nessa passagem em algumas traduções das testemunhas de Jeová, falsamente traduzem como força ativa de Deus para “desendeuzar” o Espírito Santo.

PAX!

Aula de Noção de Hebráico bíblico (1/9)

Publicado: 11 de junho de 2010 por Rafasoftwares em Teologia

A paz do Senhor povo Santo, o desejo de compartilhar com todos o conhecimento de Deus e das sagradas escrituras me impulsionam para fazer mais esse estudo.

Para todos aqueles que querem aprender um pouco dessa língua sagrada e se aprofundar mais no entendimento bíblico com base na sua língua originaria vai  ai essa pequena série de 9 aulas de hebraico bíblico, que  foi elaborada como subsídio para as aulas de um semestre de duração  no 10 ano de Teologia da FTCR da PUC-Campinas. Vamos traduzir Gênesis 1, 1-8, versículo por versículo,  divididos como já disse em 9 aulas, sendo que só na ultima postarei o alfabeto e o áudio das pronuncias. Bom Aprendizado a todos!

O hebraico é uma língua semítica. As línguas semíticas constituem um ramo da grande família das línguas afro-asiáticas, anteriormente chamada camito-semítica. A família afro-asiática compreende seis ramos: semítico, egípcio, berbere, cuxita, homótico e chádico.

A família das línguas semíticas é bem antiga, documentada desde a metade do terceiro milênio a.C. com o acádico e o eblaíta, até os dias atuais com o árabe, o amárico e o hebraico.

O Hebraico é uma língua do Velho testamento/ hebraico bíblico e do judaísmo desde a antiguidade. É uma linguagem de uma vasta literatura tanto religiosa quanto secular.

O hebraico, ao contrário das línguas que comumente conhecemos, não se escreve nem se ler da esquerda pra direita e sim da direita para a esquerda, por tanto a pronuncia colocada a baixo de cada versículo não está na mesma ordem da escrita, ou seja, está ao contrário.

A ordem dos textos ficaram assim na tabela:

  1. Texto original (lido da direita para a esquerda)
  2. Pronuncia do texto
  3. Tradução do texto

Feito a Introdução vamos lá:

Gênesis 1, 1:

*Note que nas tabelas eu grifei em vermelho a palavra elohim foi para fazermos uma breve reflexão.

Perceba que Elohim é o plural da palavra El que significa Deus. Nesse trecho os Padres Apostólicos já viam a prefiguração da Santíssima Trindade visto que se dá a noção de pluralidade de pessoas, pois Elohim é usado como nome próprio para designar o Criador.

E por ultimo por curiosidade, a Palavra Bereshít é a primeira Palavra de toda a bíblia que significa no princípio. Esse é o nome também do primeiro livro da torá dos judeus, Pentateuco para nós Cristãos, ele não o chamam de Gênesis como nós e sim pela primeira palavra do livro, assim como em todos os outros livros sempre os nomeiam pela primeira palavra contida nele.

Bom essa foi nossa primeira aula, espero que tenham gostado!!

As provas da existência de Deus

Publicado: 10 de junho de 2010 por Rafasoftwares em Teologia

Essa é Uma Serié de Aulas da associação cultural  MONTFORT, Provando a Existência de Deus pela Metafísica.

Esses matéria é em homenagem ao Professor Orlando Fedelli.